Os segredos dos remédios da Amazônia estão nas plantas
Nem canhões, nem metralhadoras. Em missões pela Amazônia, um navio da Marinha de Guerra carrega um outro arsenal: remédios, analgésicos, antibióticos, antiinflamatórios, vacinas, vitaminas. Produtos de tecnologia avançada, desconhecidos da maioria do povo amazônico, gente que usa a floresta como farmácia. O capitão-de-corveta Antônio Barbosa quer saber que segredos guardam as árvores, as folhas.
Movido pela mesma curiosidade que leva para a Amazônia cientistas do mundo inteiro, o doutor do navio-hospital quer conhecer as receitas caseiras, como o xarope que a dona de casa Odete Lima costuma fazer. Ela pega os ingredientes no quintal de casa: folhas de mangueira, de jambo, um ramo de erva cidreira e hortelã. As folhas, cortadas e lavadas, vão para a panela, com água e açúcar. "Quando a criança está muito atacada com gripe ou tosse, eles dão os medicamentos da farmácia. Quando não resolve, eles me procuram. Se não tiver em casa, eu faço. Eles dão e a criança fica boa", conta dona Odete. Algumas horas depois, o xarope está pronto. O farmacêutico prova e aprova. "Ele dá um efeito refrescante. A sensação de dormência na língua é uma característica do jambo. Não tem efeito colateral, desde que o paciente não seja diabético", diz o oficial farmacêutico da Marinha.
A selva amazônica guarda fórmulas de vida ou morte. Cientistas que estudam a mais cobiçada mata do planeta caminham no fio da navalha. Ainda será preciso pesquisar muito para separar remédio e veneno. O Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa) tem um trabalho pioneiro. A pedido do Ministério da Saúde, está fazendo um levantamento que vai responder: as plantas têm, realmente, algum poder de cura? Para encontrar as respostas, é preciso conhecer os mistérios da selva. Trabalho para uma vida inteira. Desafio que fascina o botânico Juan Revilla. Ele é peruano, mas vive no Brasil há 20 anos. O botânico afirma que 300 plantas amazônicas, já catalogadas, mostraram um imenso potencial: poderão ser usadas na medicina, na fitoterapia e nas áreas de cosméticos e aromáticos. "Nós estamos fazendo a pesquisa em 120 mil metros quadrados de floresta. Estamos inventariando e coletando todos os indivíduos maiores de 10 centímetros. Com isso, devemos ter aproximadamente 2 mil espécies", revela o botânico.
Uma radiografia completa, de árvore em árvore. O tronco é medido, classificado e identificado. Para os galhos altos, um equipamento rústico, a peconha, facilita a subida e a retirada dos galhos. Mas quando o tronco não permite a escalada, as amostras são derrubadas à bala. Todo o material coletado é fotografado e depois embalado.
O xixuá é uma das plantas que fazem parte do levantamento do Inpa. No passado, flores e casca do xixuá só eram aproveitados para fazer licor. O produto tinha boa aceitação na Europa. Agora, a pesquisa pretende ampliar os conhecimentos sobre a planta.
A maripuama é outra planta. "Para os indígenas, ela é conhecida como mirantã; em Manaus, como marapuama; e em Belém, como mirapuama. A pesquisa no Inpa está tentando determinar o teor dos princípios ativos na raiz, na casca, na madeira, nos galhos e nas folhas. Nos mercados e feiras, é vendida como afrodisíaco", diz o pesquisador. Mesmo sem confirmação científica, a maripuama e outras plantas brilham nas farmácias populares da Amazônia.O Mercado Adolfo Lisboa, no centro de Manaus, concentra um grande número de vendedores de produtos naturais. São sementes, raízes e cascas, que servem para praticamente todos os males. O comerciante Vanderlei Souza ensina a fazer uma mistura afrodisíaca. "Primeiro pegamos uma cuia de pitinga virgem. Colocamos 50 gramas de guaraná para cada 100 gramas da mistura. O restante complementa com 10 gramas de mirantã, 10 gramas de catuaba, 10 gramas de nó-de-cachorro e 10 gramas de ginseng", explica o comerciante. São 50 gramas de guaraná e dez dos demais. "O guaraná é um pouco mais fraco que os outros", justifica Vanderlei.
Mas, afinal, a maripuama é mesmo capaz de melhorar o desempenho sexual de alguém? "Na pesquisa, estamos tentando provar se isso é verdade ou mito", diz o botânico Juan Revilla.
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