terça-feira, 1 de setembro de 2009

Os segredos dos remédios da Amazônia estão nas plantas

Os segredos dos remédios da Amazônia estão nas plantas

Nem canhões, nem metralhadoras. Em missões pela Amazônia, um navio da Marinha de Guerra carrega um outro arsenal: remédios, analgésicos, antibióticos, antiinflamatórios, vacinas, vitaminas. Produtos de tecnologia avançada, desconhecidos da maioria do povo amazônico, gente que usa a floresta como farmácia. O capitão-de-corveta Antônio Barbosa quer saber que segredos guardam as árvores, as folhas.
Movido pela mesma curiosidade que leva para a Amazônia cientistas do mundo inteiro, o doutor do navio-hospital quer conhecer as receitas caseiras, como o xarope que a dona de casa Odete Lima costuma fazer. Ela pega os ingredientes no quintal de casa: folhas de mangueira, de jambo, um ramo de erva cidreira e hortelã. As folhas, cortadas e lavadas, vão para a panela, com água e açúcar. "Quando a criança está muito atacada com gripe ou tosse, eles dão os medicamentos da farmácia. Quando não resolve, eles me procuram. Se não tiver em casa, eu faço. Eles dão e a criança fica boa", conta dona Odete. Algumas horas depois, o xarope está pronto. O farmacêutico prova e aprova. "Ele dá um efeito refrescante. A sensação de dormência na língua é uma característica do jambo. Não tem efeito colateral, desde que o paciente não seja diabético", diz o oficial farmacêutico da Marinha.
A selva amazônica guarda fórmulas de vida ou morte. Cientistas que estudam a mais cobiçada mata do planeta caminham no fio da navalha. Ainda será preciso pesquisar muito para separar remédio e veneno. O Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa) tem um trabalho pioneiro. A pedido do Ministério da Saúde, está fazendo um levantamento que vai responder: as plantas têm, realmente, algum poder de cura? Para encontrar as respostas, é preciso conhecer os mistérios da selva. Trabalho para uma vida inteira. Desafio que fascina o botânico Juan Revilla. Ele é peruano, mas vive no Brasil há 20 anos. O botânico afirma que 300 plantas amazônicas, já catalogadas, mostraram um imenso potencial: poderão ser usadas na medicina, na fitoterapia e nas áreas de cosméticos e aromáticos. "Nós estamos fazendo a pesquisa em 120 mil metros quadrados de floresta. Estamos inventariando e coletando todos os indivíduos maiores de 10 centímetros. Com isso, devemos ter aproximadamente 2 mil espécies", revela o botânico.
Uma radiografia completa, de árvore em árvore. O tronco é medido, classificado e identificado. Para os galhos altos, um equipamento rústico, a peconha, facilita a subida e a retirada dos galhos. Mas quando o tronco não permite a escalada, as amostras são derrubadas à bala. Todo o material coletado é fotografado e depois embalado.
O xixuá é uma das plantas que fazem parte do levantamento do Inpa. No passado, flores e casca do xixuá só eram aproveitados para fazer licor. O produto tinha boa aceitação na Europa. Agora, a pesquisa pretende ampliar os conhecimentos sobre a planta.
A maripuama é outra planta. "Para os indígenas, ela é conhecida como mirantã; em Manaus, como marapuama; e em Belém, como mirapuama. A pesquisa no Inpa está tentando determinar o teor dos princípios ativos na raiz, na casca, na madeira, nos galhos e nas folhas. Nos mercados e feiras, é vendida como afrodisíaco", diz o pesquisador. Mesmo sem confirmação científica, a maripuama e outras plantas brilham nas farmácias populares da Amazônia.O Mercado Adolfo Lisboa, no centro de Manaus, concentra um grande número de vendedores de produtos naturais. São sementes, raízes e cascas, que servem para praticamente todos os males. O comerciante Vanderlei Souza ensina a fazer uma mistura afrodisíaca. "Primeiro pegamos uma cuia de pitinga virgem. Colocamos 50 gramas de guaraná para cada 100 gramas da mistura. O restante complementa com 10 gramas de mirantã, 10 gramas de catuaba, 10 gramas de nó-de-cachorro e 10 gramas de ginseng", explica o comerciante. São 50 gramas de guaraná e dez dos demais. "O guaraná é um pouco mais fraco que os outros", justifica Vanderlei.
Mas, afinal, a maripuama é mesmo capaz de melhorar o desempenho sexual de alguém? "Na pesquisa, estamos tentando provar se isso é verdade ou mito", diz o botânico Juan Revilla.

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