terça-feira, 1 de setembro de 2009

MATÉRIAS (A utilização da biomassa do bambu como bicombustível)

A biomassa do bambu pode ser usada como biocombustível? É essa a pergunta que pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Biomassa e Meio Ambiente (EBMA) tentarão responder com base na pesquisa de algumas espécies de bambu. O estudo será feito por meio da análise e da caracterização genética da planta, a fim de saber se é possível sua utilização como biocombustível e também para a geração de outros tipos de energia.
O projeto financiado pelo CNPq com o título de “Valorização energética de bambu pelo processo de compactação”, faz parte do EBMA, grupo formado na Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Pará – UFPa. O coordenador do projeto, Profº Dr. Manoel Nogueira, em entrevista ao CIECz, explica que o bambu pode ser uma boa fonte de biomassa, pois é uma planta de ciclo de crescimento curto. Segundo ele, é possível conseguir material para pesquisa em até um mês, pois o bambu chega a crescer 20 centímetros em um dia.
O uso de plantas de curto ciclo não é comum para a produção de energia renovável, portanto, o potencial energético dessas plantas ainda é desconhecido. A proposta do trabalho é justamente pesquisar e determinar esse potencial, pesquisando três espécies de bambu: Guadua sarcocarpa, Bambusa vulgaris e Guadua weberbaueri provenientes das regiões Sul, Nordeste e Norte do país, respectivamente. Na região norte, as amostras foram colhidas dentro da UFPa, em um bambuzal localizado na frente do Núcleo de Meio Ambiente.
Em parceria com o Serviço Florestal Brasileiro e a Rede de Bambu do CNPq as amostras foram escolhidas, levadas para o pesquisador Waldir Quirino, no Laboratório de Serviços Florestais, para que seja feita a briquetagem (compactação do produto, pois o bambu é difícil de ser transportado em sua forma bruta). Depois, foram levadas ao EBMA para que seja feita a caracterização energética, a fim de descobrir quais os níveis de carbono, o poder calorífico, e outras características que permitem dizer se as espécies são viáveis para a produção de biodiesel e outros tipos de energia, e a quantificação desse potencial.
Após a caracterização do bambu, serão conduzidos experimentos para conhecer a viabilidade para: produção de energia elétrica a partir da queima de biomassa; produção de diesel a partir da gaseificação; e produção de insumos químicos, como ácido acético e formol, por meio de processo enzimático; geração de vapor para a secagem de madeira e alimentos; e também para a extração de óleos vegetais. Portanto, as alternativas de uso da biomassa do bambu são corta vastas.
As pesquisas tiveram início em dezembro de 2008, e terminarão em novembro de 2010. Até lá, espera-se a total caracterização e a resposta para a pergunta feita no título desse texto. Se o bambu for mesmo detentor de potencial para a produção de biodiesel, haverá um avanço para a produção nacional de biocombustíveis, pois, uma das questões ressaltadas pelo Profº Manoel Nogueira é de que o Brasil, apesar de grande produtor de biomassa, não consegue produzir energia de forma a atingir a demanda energética do país. “O ponto chave é ter uma quantidade grande de biomassa num período de tempo curto, para que possa alimentar o sistema produtivo”.
A biomassa, mesmo sendo de fundamental importância para o crescimento da economia e sendo útil para a produção de biodiesel, que é um combustível menos poluente, é um assunto delicado a ser tratado, e como todo assunto envolvendo o meio ambiente, deve ser debatido com cuidado. É necessário o uso racional do recurso, sem a substituição das florestas por cultivos de uma única espécie com a justificativa que a produção de biomassa é uma atividade rentável. É preciso também que a produção de energia não compita com a produção alimentícia, que também depende da biomassa.
Tendo o conhecimento do potencial econômico da biomassa, é preciso que haja uma síntese do conhecimento científico e sua aplicação na pequena produção rural, sem, contudo, prejudicar o meio ambiente. É preciso descobrir o potencial da biomassa proveniente do bambu, e desenvolver técnicas para que haja um uso racional desses recursos e seu aproveitamento em vários setores da sociedade. Desse modo, a ciência pode contribuir para o bem estar das sociedades contemporâneas, dando o devido cuidado com o meio ambiente.

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